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Renoir
Este pesado e enorme angorá, branco com malhas louras, era agora (desde a morte de «Tobias», o soberbo cão são-bernardo) o fiel companheiro de Afonso. Tinha nascido em Santa Olávia, e recebera então o nome de «Bonifácio»; depois, ao chegar à idade do amor e da caça, fora-lhe dado o apelido mais cavalheiresco de «D. Bonifácio de Calatrava»; agora, dorminhoco e obeso, entrara definitivamente no remanso das dignidades eclesiásticas, e era o «Reverendo Bonifácio»...
[...]
O «Reverendo Bonifácio», que desde que se tornara dignitário da Igreja comia com os senhores, lá estava já majestosamente sentado sobre a alvura nevada da toalha, à sombra de algum grande ramo. Era ali, no aroma das rosas, que o venerável gato gostava de lamber, com o seu vagar estúpido, as sopas de leite, servidas num covilhete de Estrasburgo. Depois agachava-se, traçava por diante do peito a fofa pluma da sua cauda, e de olhos cerrados, os bigodes tesos, todo ele uma bola entufada de pêlo branco malhado de oiro, gozava de leve uma sesta macia.
Eça de Queirós, Os Maias