Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Micro, o belo tigrado laranja de olho azul, era o pai da Jade. Cumpriu o seu tempo. Foi-se com a lua cheia.
NASCEMOS PARA O SONO
Nascemos para o sono,
nascemos para o sonho.
Não foi para viver que viemos sobre a terra.
Breve apenas seremos erva que reverdece:
verdes os corações e as pétalas estendidas.
Porque o corpo é uma flor muito fresca e mortal.
Poesia Mexicana do Ciclo Nauatle (mudada para o português por Herberto Helder em Poesia Toda, Assírio & Alvim, Lisboa, 1990)
daquela vez que a gata entrou pelo
café (vinda de mais um passeio pelos
vasos dos telhados) ouviu-se a queda
de um prato sobre a pedra da cozinha
enquanto um velho tossia vendo as
nuvens chegar. agora sempre que a gata
experimenta o meu regaço (vinda do
seu monólogo pelo tijolo dos telhados)
e não se escuta o eco de um prato
a partir (nem a mesa do lado tosse
uma constipação) faz-se o encanto
imperfeito (digo à gata para sair)
peço-lhe que fique à espera do sinal
da sua deixa
João Luís Barreto Guimarães, Este Lado Para Cima, Limiar, Porto, 1994