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O Livro dos Gatos - 21

por arcadajade, em 31.07.05

Os gatos entraram na minha casa
pela porta dissimulada da noite
e não tinham pressa nem sono.
Eram gatos do tamanho de sombras
e trouxeram-me a paz felina
das auroras inquietas, exaltadas.
Nunca mais partiram. Sonharam,
em teias de fumo, a minha evasão
de menino à solta nos livros,
e nunca me disseram aquilo que aprenderam,
sonhando o que sonharam. Imóveis.

 

José Jorge Letria, O Livro dos Gatos, Universitária Editora, Lisboa, 2001

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16:44

Sonâmbulo

por arcadajade, em 29.07.05

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                 para a Soledade Santos

 

um gato deixou o seu sorriso marcado no vidro da janela. o seu miar 

ainda se ouve. no quintal. junto à árvore onde costumava afiar as unhas.
era um gato malhado. gostava de andar à chuva. um gato simples. puro.
como outro gato qualquer.

Manuel A. Domingos, em Limites de Luz

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01:16

Gato À Janela

por arcadajade, em 24.07.05

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Pintura de Ricardo Garcia - acrílico e óleo sobre tela, Junho de 2005.

Gentilmente cedida pelo pintor, cujo Capitão Amendoim é amigo desta Jade e de um certo Nocturno com Gatos.

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16:13

Perdeu-se lindo gato

por arcadajade, em 14.07.05

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foto de Pedro Câmara

Perdeu-se lindo gato, 

ou, melhor dizendo,
perdeu-se (o autor destas linhas)
da própria essência de gato que prevalecia para além
da felpuda diversidade de raças,
temperamentos
e fisionomias felinas.
Perdeu-se (perdi)
aquela consciência universal do que é
"UM GATO",
o animal que Adão nomeou com sagacidade
inspirada por Javé,
aquilo, enfim,
que nos une na inamovível certeza
de que um gato é bicho meigo e mamífero,
e que um gato não acasala com okapis nem
pesca à linha.
Perdeu-se o conceito de gato que me prestava
serena e fiel companhia em húmidas tardes
de Novembro com migalhas de biscoito de canela
presas ao pêlo.
Resta-nos a tirania do acidente felino, do bravio e
indomável gato individual.
Esgueira-se por becos, prefere a sombra à luz.
Acaba neste momento de evitar uma motorizada que galgou
o passeio,
na zona das Janelas Verdes.

Alexandre Andrade, em umblogsobrekleist

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22:10

Gata

por arcadajade, em 05.07.05

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oto de Sílvia Lopes

A tua gatinha agora emagreceu.
O seu mal não é senão o de amor:
mal que ao teu cuidado a consagra.
Não experimentas uma aflita ternura?
Não a sentes vibrar como um coração
por baixo da tua carícia?
Aos meus olhos é perfeita
como tu esta tua bravia gata,
mas é como tu rapariga
e enamorada, sempre em busca,
que sem sossego por todo o lado te mexias,
e tanto que diziam: «É doida».
É como tu rapariga.

Umberto Saba, (1883-1957) em Assinar a Pele, Antologia de Poesia Contemporânea Sobre Gatos, organização de João Luís Barreto Guimarães, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001

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20:02