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Tyger começou por olhar fixamente para a porta branca do frigorífico durante vários minutos, antes de se chegar a um dos pires colocados ao lado e esfreguer leve e cuidadosamente as suas patas na superfície espessa da tinta. Depois, perfeitamente equilibrado nas suas patas traseiras, levantou as patas da frente e desenhou um traço delicado de azul em forma de vírgula exactamente por baixo da pega. Repetiu o motivo mais três vezes em cores diferentes, um por baixo do outro, e depois, mal olhando para o que fizera, saiu despreocupadamente para a rua, para lavar as patas. Toda a operação durara apenas uns minutos, mas fora executada com uma graciosidade tão descuidada que parecia não se ter passado nada de invulgar.
Muitas pessoas sentem o mesmo quando vêem a pintura de um gato pela primeira vez. Parece um acto tão natural, que só depois é que pensam em examinar a motivação do gato - e quando o fazem, as perguntas começam a acumular-se. Estará ele a tentar representar alguma coisa, um objecto talvez, ou um estado emocional, e porquê? (...) Será que alguns gatos têm realmente um sentido estético ou será a sua «arte» simplesmente uma forma de comportamento de demarcação territorial, como pensam muitos biólogos?
Heather Bush & Burton Silver, Porque Pintam os Gatos?, Uma teoria da estética felina, Centralivros, Lda, Livros e Livros, 1995
Misty, pintando
A pintura de Misty: Um Pequeno Salto Exuberante
Lu Lu, completando a pintura de Wong Wong
Wong Wong dá a sua aprovação, introduzindo duas marcas pretas por baixo do motivo central.
Lu Lu junto da sua secção do tríptico.
Ramificações sérias, pintura de Smokey
Imagens retiradas do livro citado.
Porque pintam os gatos? I
Porque pintam os gatos?II
Galgam os gatos, guturais, gritando,
Nas gotejantes, glácidas goteiras,
As julietas maltesas namorando,
Em mios sensuais pelas trapeiras.
Chora, chapinha, chuviscando a chuva!
No deserto beiral do meu telhado,
Uma cinzenta graziela viúva
Contempla o seu «miau» envenenado...
Há lamentosos, lutulentos lances,
Por sobre a telha de Marselha, oblonga...
Sonhos, idílios, infernais romances,
Cavaleiros de Malta e barba longa!
Dum, conheço uma história muito triste,
Dum que lembrava o D. João doutrora,
Sempre com o bigode e a cauda em riste...
Mas era longo referi-la agora.
Pelos sítios escusos dos telhados
Há gatas sem pudor fazendo visitas,
Traições, banzés, focinho arranhado,
Baralhas de saloios e fadistas.
Ouvindo-os, entre insónias horrorosas,
Paroquiais, pesados pesadelos,
Guloso, gloso gloriosas glosas,
E faço caracóis com os cabelos!...
António Feijó, Poesias Completas, 1.ª Edição, Edições Caixotim, Porto, 2004
Manda-Chuva
Pixie e Dixie
Crazy Kat
O gato Félix
O gato de Cheshire
Tom e Jerry
-
Silvestre e Piu-Piu
para Haroldo, felinófilo
Embora seja tão
minúscula, está viva
a gata que se esquiva
enquanto minha mão,
com mais de um arranhão,
conclui a tentativa
inútil e, à deriva,
afaga o nada em vão.
Fruindo em paz de sete
vidas, no entanto, a gata
faz sua toilette
e assim não se constata
que esconde um canivete
suíço em cada pata.
Nelson Ascher
(poema gentilmente enviado pelo autor)
era um gato no telhado
aqueles olhos que luziam
o fantasma no meu quarto
tênue sombra enluarada
sombra de silêncio
eco da madrugada
era um gato e caminhava
atento a tudo que havia
a um insone na janela
que à sua sombra acudia
lentamente foi embora
lentamente raia o dia
era um gato e um poeta
um do outro estranhos
um do outro fantasmas
um do outro silêncios
aquele agora quer cama
este agora quer braços
do meu amigo António
... uma gata
cor de prata
é tigresa
e literata!
António Cardoso Pinto