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Um gato vive um pouco nas poltronas, no cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que impulso para a cultura. É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e que não carece de suplemento de informação. Livros e papéis, beneficiam-se com a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual.
Carlos Drummond de Andrade
um gato assim era quase um sítio perdido entre
o pêlo e o acordar (pequena fábula sonhada por
entre as patas) quem o enviou quis ensinar ao
mundo o sentimento da inveja. a mãe tirava da
boca para lhe dar assim mesmo o lorde mentia
na hora a que chegava das sete vidas paralelas.
um dia fugiu pela manhã o (in)g(r)ato mesmo
sem se despedir ou pagar o que levou:
a coleira nova e o guizo ...................... 150$00
duas latas de comida .......................... 395$00
um saco de areia higiénica .................. 200$00
dá notícias pedaço de deus se acordares desse
intrigante sono repousando de (qual?) cansaço
que pensas tu afinal de Ivan Petrovich Pavlov?
João Luís Barreto Guimarães, Rua Trinta E Um Fevereiro, Porto, 1991
e em lugares comuns
La Chambre Vide
Petit chat blanc et gris
Reste encore dans la chambre
La nuit est si noire dehors
Et le silence pèse
Ce soir je crains la nuit
Petit chat frère du silence
Reste encore
Reste auprès de moi
Petit chat blanc et gris
Petit chat
La nuit pèse
Il ný a pas de papillons de nuit
Où sont donc ces bêtes?
Les mouches dorment sur le fil de l'éléctricité
Je suis tropt seus vivant dans cette chambre
Petir chat frère du silence
Reste à mes côtés
Car il nous faut que je sente la vie auprès de moi
Et c'est toi qui fait que la chambre n'est pas vide
Petit chat bçanc et gris
Reste dans la chambre
Eveillé minucieux et lucide
Petit chat blanc et gris
Petit chat.
Manuel Bandeira, Petrópolis, 1925
Vai e vem. O passo
deixa no soalho,
menos que um traço,
um fio escasso
de ócio e borralho.
Clara é a pupila
onde não chove
e que, tranquila,
no ermo cintila,
mas não se move
A pose é exata
a de uma esfinge
da cauda à pata,
nada o arrebata
ou mesmo o atinge.
Aguça o dente,
as unhas lima:
brinca, pressente
‑ e, de repente,
o pulo em cima.
A voz é como
sussurro de onda;
infla-lhe o pomo,
túmido gomo
que se arredonda.
Lúdico e astuto,
eis sua sorte:
alheio a tudo,
ilha sem susto
o tempo e a morte.
Ivan Junqueira