Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os gatos entraram na minha casa
pela porta dissimulada da noite
e não tinham pressa nem sono.
Eram gatos do tamanho de sombras
e trouxeram-me a paz felina
das auroras inquietas, exaltadas.
Nunca mais partiram. Sonharam,
em teias de fumo, a minha evasão
de menino à solta nos livros,
e nunca me disseram aquilo que aprenderam,
sonhando o que sonharam. Imóveis.
José Jorge Letria, O Livro dos Gatos, Universitária Editora, Lisboa, 2001
para a Soledade Santos
um gato deixou o seu sorriso marcado no vidro da janela. o seu miar
ainda se ouve. no quintal. junto à árvore onde costumava afiar as unhas.
era um gato malhado. gostava de andar à chuva. um gato simples. puro.
como outro gato qualquer.
Manuel A. Domingos, em Limites de Luz
Pintura de Ricardo Garcia - acrílico e óleo sobre tela, Junho de 2005.
Gentilmente cedida pelo pintor, cujo Capitão Amendoim é amigo desta Jade e de um certo Nocturno com Gatos.
foto de Pedro Câmara
Perdeu-se lindo gato,
oto de Sílvia Lopes
A tua gatinha agora emagreceu.
O seu mal não é senão o de amor:
mal que ao teu cuidado a consagra.
Não experimentas uma aflita ternura?
Não a sentes vibrar como um coração
por baixo da tua carícia?
Aos meus olhos é perfeita
como tu esta tua bravia gata,
mas é como tu rapariga
e enamorada, sempre em busca,
que sem sossego por todo o lado te mexias,
e tanto que diziam: «É doida».
É como tu rapariga.
Umberto Saba, (1883-1957) em Assinar a Pele, Antologia de Poesia Contemporânea Sobre Gatos, organização de João Luís Barreto Guimarães, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001